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domingo, 30 de maio de 2010

DROGAS DOS CONCURSEIROS: UMA ILUSÃO DE EFICIÊNCIA COGNITIVA!


Você já teve contato, já usou ou já ouviu falar das drogas dos concurseiros?

Muito bem, ao que tudo indica, vem ganhando força a idéia do uso de drogas cognitivas no universo da preparação para concursos públicos. Trata-se de um recurso perigoso e ilusório.

Alguns candidatos têm recorrido a substâncias químicas com a intenção de otimizar o processo de estudos. Geralmente estas correspondem ao metilfenidato, mais conhecido como ritalina, e o modafinil. A intenção seria melhorar as funções cognitivas primárias, tais como a atenção e a concentração.

Antes de mais nada, vale lembrar que o referido recurso se trata de uma droga. Segundo o dicionário de Michaelis, droga seria a “designação comum a todas as substâncias ou ingredientes aplicados em tinturaria, química ou farmácia”.

Infelizmente, a postura de adoção indiscriminada do aludido recurso atinge não apenas o mundo da preparação para concursos públicos, mas também já vem, há algum tempo, afetando o universo da educação infantil. Não é incomum que profissionais da saúde ou da educação, diante de transtornos de aprendizagem por parte de crianças – principalmente o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade), recomendem de imediato o uso da ritalina, sem a tentativa de outros meios ou estratégias de superação da mencionada dificuldade.

Mas diante deste cenário, dois aspectos fundamentais exigem consideração. O primeiro seriam os efeitos colaterais e problemas passíveis de ocorrência no futuro. O segundo seria a real eficiência do referido recurso.

Como sei que muitos dos candidatos não se preocupam com o futuro, estando tomados pelo imediatismo e às vezes pelo desespero de busca da aprovação, vou ignorar solenemente a primeira preocupação. Registro que considero positivo este “quase desespero”, pois se traduz em motivação e compromisso com o processo de preparação. No entanto, como tudo na vida, radicalismos e exageros sempre são indesejáveis. Inclusive pelo risco de que a referida intensidade de envolvimento ao longo da trajetória de estudos não se mantenha constante.

Assim, considerando a preocupação-alvo que elegi, saliento que tenho dúvidas sobre a eficiência do uso dos referidos medicamentos. Em tese, a intenção consiste na ampliação da concentração e atenção. Para compreensão da referida atitude, destaco que há um conceito de grande aplicação.

Trata-se da idéia da curva de aprendizagem. A referida construção foi desenvolvida pelo alemão Hermann Ebbinghaus e aperfeiçoada por Theodore Paul Wright. Tal conceito envolve a noção de que o processo de aprendizagem não é necessariamente linear. Ou seja, ao iniciarmos nossos estudos em determinado momento, haverá um ponto ótimo de aproveitamento, após o qual este contará com um comprometimento. A referida idéia se relaciona com um conceito da ciência econômica denominado função utilidade, conforme o qual em processos produtivos existem momentos e situações de otimização positiva ou negativa de resultados.

Ou seja, resumo do resumo: 10 horas seguidas de estudos não são o resultado aritmético de 1 hora vezes 10 de estudos. Assim, não é o fato de tomar um medicamento que permita permanecer 10 horas estudando que garantirá a eficiência de tal processo cognitivo e, principalmente, da apropriação intelectual da informação passível de solicitação no momento da prova. Não custa lembrar que o cérebro conta com uma estrutura bio-fisiológica complexa, não funcionando como uma máquina. Isto é, não é uma questão de trocar a pilha ou colocar uma bateria mais potente.

Recentemente, o periódico “Mente e Cérebro” publicou uma matéria noticiando que alguns cientistas estariam propondo a reflexão sobre a conveniência de adoção das mencionadas substâncias, enquanto meio de otimização cognitiva. No entanto, não deixou de fazer o devido e necessário alerta, ao colocar que “essas drogas devem ser cuidadosamente estudadas para esse fim, e devem ser avaliados seus riscos e benefícios” (Ano XVI, no. 193, pág 21).

Saliento que, apesar da percepção de alguns no sentido da eficiência da busca de drogas cognitivas, considero – em termos de formulação de hipótese, que se trata apenas e tão somente de uma ação de efeito placebo. Não há dúvida que temos a natural capacidade de reagir, inclusive em termos fisiológicos, diante da crença de que determinada substância provoca determinado efeito esperado. Pode ser que por trás da aparente e ilusória vantagem subsista a atuação do referido mecanismo.

Portanto, não tenho dúvida em afirmar que, ao invés da busca de ganhos facilitados e ilusórios, a otimização dos estudos deve ser viabilizada por estratégias e atitudes adequadas, principalmente em termos da estruturação do planejamento da preparação.

Recentemente, publiquei texto sobre o Princípio de Pareto e a Preparação para Concursos Públicos, apontando algumas idéias que podem ser implementadas no sentido da referida maximização e eficiência de esforços empreendidos. Além disto, não é preciso muito esforço intelectual para se convencer da importância do cultivo de hábitos saudáveis, em termos físicos e psicológicos, enquanto meio de gerar condições adequadas ao processo de estudo e aprendizagem.

Enfim, espero que você reflita sobre os alertas apontados e manifesto meus votos de que desempenhe uma preparação estratégica, eficiente, racional, de alto rendimento e, acima de tudo, saudável!!!

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