Páginas

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A força do destino



O nome dele era Davi. Pura coincidência: mesmo nome do Pequeno que venceu o Gigante, conforme revela a Bíblia. Vinha de família pobre, filho de sertanejos que lidavam com a terra e criavam umas vaquinhas na zona rural de uma pequena cidade do interior do Maranhão. Tinha três irmãos.

Era a década de noventa, e, como em qualquer outro lugar, as pessoas mais humildes batalhavam muito para vencer na vida. Muitas morriam sem realizar o sonho da casa própria ou sem lograr aprovação em algum concurso público. Outras desistiam dos estudos e iam “mexer” – como se diz lá na região – com comércio, abrindo lojas de auto-peças, confecções, farmácias, bares ou restaurantes. O importante era ter o próprio negócio, casar, ter filhos e viver aquela vidinha feliz para sempre.

Quem não conseguia passar no vestibular de uma universidade pública – do Maranhão mesmo, ou do Piauí, Tocantins ou Pará, estados mais próximos – nem pensava em enfrentar uma faculdade particular porque a mensalidade era (e continua sendo) alta. Com os baixos salários da região, seria impossível sobreviver e ainda pagar os estudos.

O jovem e pujante Davi era diferente. Ele era determinado. Tinha um norte na vida. Queria ser juiz. Não juiz de futebol, com todo o respeito a esses profissionais, mas Juiz Federal, do Poder Judiciário. Assim, o rapaz estabeleceu metas, organizou-se e foi à luta.

Durante o dia, trabalhava no escritório de uma grande serraria e fábrica de carrocerias de caminhão da cidade. Mas aproveitava regradamente os fins de semanas e os momentos de lazer. O tempo que tinha usava para se preparar para o vestibular da Universidade Federal do Maranhão. Sabia que a vida de auxiliar de contabilidade não o levaria muito longe. O máximo que conseguiria seria o cargo de chefe do escritório da fábrica. Isso era pouco para ele.

Dedicou-se de corpo e alma ao seu objetivo. Estudou, fez o vestibular e foi aprovado com ótima classificação na UFMA. O curso? Direito, claro. Era com isso que ele sempre sonhara.

Mas Davi não parou por aí. Na verdade, estava só na metade de sua longa jornada. De dia continuava trabalhando no escritório da serraria e de noite se preparava para ser advogado. Já quase no fim do curso, os três irmãos, que mal haviam concluído o antigo segundo grau, se uniram para ajudá-lo, ou melhor, para “bancar” o esforçado estudante, a mulher e os dois filhos dele. Tudo para permitir que o único universitário da família se dedicasse somente aos estudos. Com a ajuda dos irmãos, o jovem concluiu o curso de Direto e obteve, sem dificuldade, a famosa e temerosa carteira da Ordem dos Advogados do Brasil, Secção do Maranhão.

Davi exerceu a profissão por alguns meses, mas, como ainda não era possível montar um belo escritório e ganhar grandes causas, dedicava-se cada vez mais aos estudos. Ele não queria ser advogado do dia-a-dia, do tipo que só faz petições, embargos, recursos e defende alguém. Queria ser Juiz.

Com o apoio da família e dedicação exclusiva aos estudos e ao cursinho preparatório, o incansável bacharel fez concurso para o Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão. Aprovado e bem classificado, em pouco tempo estava com a vida estabilizada, morando bem, e o melhor: retribuindo a ajuda dos irmãos, dentro das possibilidades. Mas estes não estavam preocupados em recuperar o dinheiro investido no estudioso membro da família. Estavam felizes, contentes por ter um irmão Juiz – o Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Eleitoral da Primeira Zona Eleitoral Davi Costa, que venceu na vida com muita dedicação e PERSISTÊNCIA.

Nenhum comentário:

Postar um comentário