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terça-feira, 4 de maio de 2010

A IMPORTANCIA DO LOCAL DE ESTUDO E O CENSO DAS BIBLIOTECAS

No âmbito do processo de preparação para o concurso público, a definição do local de estudo consiste num elemento que deve compor o planejamento tático-operacional do candidato, contando com importância significativa. Daí se impõe a seguinte pergunta: você já definiu os locais em que vai desenvolver seus estudos? Se responder “sim”, provavelmente a resposta seguinte é de que este lugar corresponde à biblioteca ou à sua residência. Para alguns também pode ocorrer de ser um espaço de caráter mais profissional, no qual se tenha condições mínimas de estudo, tal como um escritório.

Na semana passada, o Ministério da Cultura divulgou o censo sobre as bibliotecas no Brasil. Dentre os diversos dados que chamaram a atenção da sociedade, houve um que me despertou um particular interesse. Segundo a pesquisa, Brasília conta com a segunda população do país que mais freqüenta bibliotecas. E diante do dado apresentado, de caráter nacional, as autoridades locais já tinham um outro dado curioso: mais da metade destes freqüentadores são concurseiros! Mas não bastassem estas informações, outro detalhe que despertou interesse foi de que 55% bibliotecas do DF abrem à noite, sendo tal percentual correspondente ao dobro da média nacional.

Diante disto, uma hipótese preliminar se impõe: muitos candidatos estão estudando nas bibliotecas, principalmente no horário noturno, o que pode presumir estarem trabalhando durante o dia.

Outro detalhe interessante que este cenário revela consiste na colaboração da estrutura educacional do Estado com a democratização da disputa aos cargos públicos e efetivação do princípio do livre acesso, assim estabelecido no art. 37 da Constituição Federal. Vale lembrar que a pesquisa tem como objeto exclusivamente as bibliotecas públicas.

Mas independente destas ponderações, a importância da definição do local de estudos evolve não apenas a busca de eficiência na execução do planejamento da preparação, mas também consiste em meio de geração de condições adequadas ao processo de aprendizagem.

Vale lembrar a preparação para o concurso exige a preocupação com aspectos estratégicos e táticos. Os primeiros estão no campo decisório, envolvendo elementos como a definição de objetivo e programa. Já os aspectos táticos são aqueles que devem ser considerados ao longo da implementação do planejamento da preparação.

A clareza do local ou dos locais de estudos, no âmbito da montagem e execução do planejamento, é fundamental para que o candidato não perca tempo decidindo aonde irá estudar. Isto também produz reflexos em relação à disciplina, ao tornar o candidato menos vulnerável aos furos em sua grade de estudos. Ou seja, o candidato que sabe aonde vai estudar, ao chegar o momento de estudo, já tem um destino a seguir, objetivamente e previamente estabelecido. Por outro lado, o candidato que não conta com um local definido, estará mais sujeito ao furo, pois não conta com destino objetivamente e previamente estabelecido.

Um conceito importante, relacionado com esta compreensão, trata-se da idéia do “descarregamento”, conceito este desenvolvido pelo autor americano David Allen. Segundo a referida noção, ao “descarregarmos” determinada informação em algum meio de registro, deixamos de ter a preocupação com aquilo, o que gera uma série de repercussões positivas, inclusive aliviando o stress. Esta mesma construção é trabalhada pelo brasileiro Christian Barbosa, atualmente uma das maiores autoridades em gestão do tempo. No caso da preparação para o concurso público, se o candidato já “descarregou” a definição dos locais em que irá estudar, estaria eliminando o processo decisório e automatizando o deslocamento.

Outro aspecto interessante, principalmente em relação à biblioteca, consiste na possibilidade de profissionalizar e imprimir mais seriedade ao processo de preparação. Naturalmente que nem todos os candidatos precisam deste cuidado. Mas aqueles que saem do trabalho e vão para a biblioteca, conforme se infere da pesquisa do Ministério da Cultura, seguramente acabam por profissionalizar e potencialmente imprimir mais disciplina à sua preparação para o concurso público, fazendo desta atividade o seu terceiro turno de trabalho.

No entanto, a definição do local de estudos passa por um dilema de custo e benefício, envolvendo dois aspectos fundamentais. De um lado temos o custo de deslocamento, correspondente ao tempo, possíveis desgastes e mesmo despesas com o transporte. De outro lado, em termos de benefício, temos as condições de concentração que o local de estudo escolhido pode proporcionar.

A biblioteca consiste num local naturalmente adequado ao estudo, contando com diversos fatores que contribuem com a concentração, tal como a adequação do ambiente e o fato de outras pessoas estarem estudando, o que acaba por se traduzir num estímulo externo. Seguramente esta também deve ser uma das preocupações dos candidatos freqüentadores de bibliotecas, os quais acabaram por influenciar o censo.

Contudo, geralmente esta opção exigirá um custo de deslocamento. Já o estudo na residência não impõe o referido custo de deslocamento, mas conta com uma série de fatores de dispersão de atenção, tais como o acesso fácil ao telefone, à internet, à cama, à geladeira, havendo ainda uma vulnerabilidade maior às interrupções de terceiros.

A eficiência do processo de aprendizagem voltado à preparação para o concurso exige a preocupação com a concentração. A concentração e a atenção consistem numa das chamadas funções cognitivas primárias, juntamente com a sensação e a percepção.

Nós podemos nos concentrar espontaneamente ou de forma provocada. Conforme desenvolvi de maneira mais aprofundada no livro de minha autoria sobre o tema, (“Concursos Públicos e Exames Oficiais: Preparação Estratégia, Eficiente e racional”, Ed. Atlas) um torcedor fanático por determinado time de futebol se concentra no jogo da final de forma muito espontânea. Já o candidato, no seu local de estudos, dificilmente terá esta capacidade de concentração espontânea.

Daí a necessidade de se preocupar com os fatores de concentração. Segundo as ciências cognitivas, estes se dividem em fatores endógenos, por exemplo o nosso estado emocional estar mais propício ou não, e exógenos, decorrentes do ambiente externo. Nós, enquanto seres humanos, temos uma tendência à seletividade de estímulos, ou seja, normalmente, para dedicarmos mais a atenção a um estímulo, temos que diminuir a outros. Basta pensar na experiência de atravessar uma rua. Se fomos dar atenção a todos os estímulos à nossa volta, correremos o risco de seremos atropelados.

Dessa maneira, o local de estudos, em função dos estímulos relacionados com o ambiente, pode contar com fatores exógenos de concentração ou desconcentração, podendo colaborar ou atrapalhar a eficiência do processo de aprendizagem.

Portanto, é fundamental que o candidato não apenas defina um local de estudos, mas também avalie, refletindo sobre a relação de custo e benefício envolvida, o caráter eficiente, estratégico e racional de sua escolha. Seguramente esta preocupação lhe proporcionará uma grande contribuição para o alcance da sua aprovação no concurso ou exame.

Sucesso e bons estudos!

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