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sexta-feira, 14 de maio de 2010

O QUE É UMA PROVA DIFÍCIL?

Recentemente, ouvi muitos alunos inscritos no concurso da Defensoria Pública da União afirmarem que a prova teria sido muito difícil. Diante de tais colocações, de forma bastante espontânea, iniciei um processo de reflexão sobre o tema. Comecei a desenvolver ponderações não apenas a partir das minhas experiências de candidato – que não foram poucas, mas também à luz de conceitos psicopedagógicos, de caráter científico, que venho estudando há algum tempo.

Assim, comecei a recordar e revivenciar todo aquele contexto da prova. A chegada no momento em que os portões eram abertos, a acomodação no local de prova – geralmente salas de aula, a expectativa da abertura do pacote e da distribuição dos cadernos, até o efetivo início da resolução. Por outro lado, em perspectiva distinta, apesar dos elementos empíricos que me vinham à mente, não tive como fugir da tentativa de compreensão do presente processo a partir das construções de respeitáveis autores e pesquisadores dedicados ao estudo da cognição e da aprendizagem.

Diante das referidas reflexões, uma primeira questão que me meio à mente foi a seguinte pergunta: mas afinal, o que é uma prova difícil? O que faz como que os candidatos saiam do local de prova com esta percepção e até sensação? O que faz com que as pessoas façam colocações do tipo “a nota de corte será baixa!”?

Muito bem, de modo a tentar encontrar uma resposta, uma primeira idéia fundamental consiste no enfrentamento das seguintes questões: o que é preciso para passar no concurso? O que viabiliza a aprovação?

Para passar no concurso é preciso alcançar a pontuação necessária, conforme os parâmetros estabelecidos no edital. A partir desta premissa, a compreensão de uma prova como fácil ou difícil irá se refletir no quantitativo da pontuação alcançada. Logicamente, a conseqüência da referida avaliação tenderá a refletir na idéia da nota de corte alta ou baixa.

Mas avançando no raciocínio, afinal, o que pode fazer com que uma prova seja considerada fácil ou difícil? A resposta passa por dois fatores fundamentais, os quais podem estar presentes de forma concomitante ou não, correspondendo aos seguintes:

1 – falta de disponibilidade da informação relevante para encontrar a resposta;
2 – falta de condições para encontrar a resposta, diante da complexidade do problema colocado.

Ou seja, considerando os mencionados fatores, geralmente, consideramos uma questão difícil por não termos o domínio e a disponibilidade da informação necessária ao alcance da resposta, ou por não conseguirmos resolver o problema colocado na questão.

Antes de ir adiante na referida reflexão, é importante destacar que a compreensão do sentido e das causas que nos levam a considerar uma prova difícil tem sua relevância por alguns motivos. Primeiramente, sempre que conhecemos um fenômeno ou situação tendemos a ter mais controle e tranqüilidade para o devido enfrentamento. Ou seja, se entendemos por que estamos considerando uma determinada prova ou questão difícil, contando com a clareza e compreensão racional da referida situação colocada, estamos em melhores condições de enfrentarmos a realidade e não nos desesperar.

Além do mais, contando com a referida compreensão, fica mais fácil tentar encontrar a saída e, quem sabe, resolver aquela questão de solução inicialmente e aparentemente considerada inviável.

Assim, diante dos dois fatores que fazem com que uma questão assuma o status de difícil, quanto ao primeiro, ou seja, a falta de disponibilidade da informação relevante para a solução, é preciso entender que este cenário pode decorrer dos seguintes motivos:

1 – o candidato não estudou o conteúdo objeto da questão;
2 – o conteúdo objeto foi estudado, mas não está disponível no momento da prova, ou seja, o candidato não se lembra.

No primeiro caso, a referida situação está relacionada com um assunto que considero estratégico no âmbito da preparação, tendo sido inclusive tema de posts relacionados com a TEORIA GERAL DO TUCTOR. Isto é, significa que o conjunto de matérias e conteúdos estudados pelo candidato não contemplou a informação-objeto da questão, o que decorreu de uma opção estratégica estabelecida, quando da estruturação do programa.

Já o segundo motivo, o qual pode fazer com que o candidato não tenha a disponibilidade intelectual do conteúdo-objeto da questão e a classifique como difícil, consiste na situação em que, apesar de ter estudado, não se recorda. No caso, o presente cenário decorre fundamentalmente do processo cognitivo adotado e da mobilização da memória. Por exemplo, se ao estudarmos determinado assunto por meio de um estudo blibliográfico, bem como fazemos um resumo, tendemos a contar com um potencial de disponibilidade maior do que se apenas tivéssemos assistido uma aula ou lido um dispositivo de lei relacionado. Isto é, entra em ação duas variáveis, as quais correspondem ao processo cognitivo e à memória.

Além da falta de disponibilidade, outro fator que pode determinar a classificação de uma prova como difícil consiste na falta de capacidade de solução de problemas. Tal situação pode decorrer da complexidade do que se apresenta ao candidato, o qual não consegue identificar as variáveis evolvidas e encontrar a solução. Mas a falta de capacidade de resolver problemas também pode decorrer da indisponibilidade de conceitos fundamentais, o que nos levaria à primeira situação apresentada.

Segundo um respeitado psicopedagogo francês, denominado Guy Brosseau, o qual se dedica ao estudos das dificuldades de solução de problemas da matemática, estas podem ter como causas fatores que denomina de origem ontogenética, relacionados com limitações na capacidade de racioncínio, bem como epistemológica, o que seria a falta do domínio de uma informação relevante. Já outro autor, também voltado ao estudo do mesmo tema, chamado Kuzmitskaya, sustenta como causas das referidas dificuldades a insuficiência de memória e a compreensão limitada dos problemas colocados.

Portanto, definitivamente, este é o cenário que está por trás das colocações que fazemos no sentido de que uma prova é considerada difícil. E, de forma ousada, arriscaria afirmar que, na maioria das vezes, a causa não está na complexidade do problema ou na falta de compreensão, mas na falta do domínio da informação relevante para o alcance da solução.

Neste caso, só há dois caminhos. O estabelecimento de um programa abrangente, no âmbito da estruturação do planejamento, e o desenvolvimento de um estudo por meio de processos cognitivos consistentes.

Mas independente da sua opinião sobre a tese acima colocada, o fundamental é que entenda o que significa considerar uma prova difícil e procure, a partir desta compreensão, ao menos se controlar e se acalmar na busca da solução para as questões que ainda não encontrou a resposta.

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